Equipe do Globo Repórter percorreu trecho de bicicleta com grupo que faz desse caminho rota para praticar esportes e conhecer a história da região.
Os bandeirantes só chegaram na região do Brasil Central no início do século 18, e a equipe do Globo Repórter percorreu o caminho destes desbravadores. “Essa viagem era muito sofrida, demorava de cinco a seis meses”, explica Lenora Castro, pesquisadora da UnB.
Lenora Castro estudou nos mapas o trajeto dessas viagens que partiam de Salvador, a primeira capital da colônia portuguesa, em direção a Goiás e Mato Grosso.
“O pessoal vinha do litoral, saía de Salvador, e vinha trazendo mantimentos, pólvora, armas, ferramentas, sal e voltava com o ouro”, conta.
Hoje, a maior parte dessas estradas desapareceu. Virou cidade, pasto ou lavoura. Em Goiás, muito do que ainda resta serve apenas para ligar fazendas e povoados.
A equipe do Globo Repórter percorreu esse trecho da estrada colonial de bicicleta com um grupo de pedal que faz desse caminho uma rota para praticar esportes, conhecer um pouco mais da história dessa região do Brasil e, claro, curtir a natureza.
A partida foi nos arredores de Brasília rumo a Pirenópolis. São quase 200 quilômetros pela frente. Nessa aventura estão ciclistas profissionais, atletas de fim de semana e amadores. Seguindo o contorno das serras, o trajeto cruza fazendas centenárias que preservam antigas tradições.
O produtor rural Valdemar Pereira mantém até hoje um engenho. A cana-de-açúcar é moída pela força do gado, exatamente do jeito que ele aprendeu com os avós e ensinou os filhos. O trabalho começa cedo e só termina no fim do dia, com um tabuleiro cheio de rapaduras.
No caminho, a equipe cruza o rio Corumbá, um rio importante da região que tem imensos paredões e uma bela cachoeira de 50 metros. O curioso é que o local um dia, no século 19, foi uma área de exploração de ouro e hoje atrai muitos turistas.
O próximo ponto da rota é Corumbá de Goiás, uma daquelas cidades históricas fundadas no século 18 por bandeirantes que saíram de São Paulo rumo ao interior do país em busca de minério. Os casarões e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan.
A Serra dos Pireneus é a última etapa da viagem. No caminho existem várias minas de exploração de quartzito, de onde saem as famosas pedras de Pirenópolis, usadas em pisos e paredes. O imenso lago da pedreira é um convite para um refrescante banho. Os últimos 20 quilômetros são uma longa subida.
O pico da Serra dos Pireneus é um dos pontos mais altos de Goiás: cerca de 1,4 mil metros de altitude. No pico da serra existe uma pequena capela dedicada à Santíssima Trindade.
O engenheiro e arquiteto José Rogério Vargens fez parte de uma expedição que ajudou a redescobrir o traçado da antiga Estrada Colonial do Planalto Central. Do alto, dá para entender por que os viajantes escolhiam as montanhas para suas longas jornadas.
“Os locais altos eram preferíveis para se andar porque tinham uma vegetação mais rala, uma visão mais ampla para os viajantes. Isso aqui era muito ermo, muito desabitado. Então eles foram muito corajosos, eles tiveram muita energia, muito vigor em vir desbravar a riqueza e vir fazer a vida aqui em Goiás e construir isso daqui que eles fizeram”, diz.