Uma estrada, uma história
A Estrada Colonial do Planalto Central é um conjunto de trilhas e caminhos do Século XVIII que ligava Salvador, a primeira capital colonial brasileira, às antigas capitais das províncias de Goiás, Vila Boa de Goiás (atual Cidade de Goiás), e de Mato Grosso, Vila Bela de Santíssima Trindade. Atravessava o Brasil de leste a oeste, percorrendo cerca de 3.000 km entre o Oceano Atlântico e as cabeceiras do Rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia, no extremo oeste. Foi aberta em 1736, por ordem do Rei de Portugal, sendo esta a mais extensa estrada oficial da história do Brasil.
O ouro, que durante muitos anos nutriu as obras barrocas da Bahia, passou por lá. Projetos, cartas, notícias e até grandes cientistas também usaram a estrada. Esta servia de caminho para comerciantes do século XVIII, mineradores, bandeirantes e autoridades, que iam do Oceano Atlântico até as fronteiras do Brasil, na divisa com a Bolívia, onde Portugal e Espanha haviam fixado limites por meio do Tratado de Madri, em 1750.
História como esta faz com que encontremos motivação e amigos para percorrer parte desta estrada. Durante o pedal, ficamos viajando no tempo, imaginando como era em épocas longínquas.
O grande motivador para eu fazer este pedal foi o amigo Heider Fernandes, morador de Brasília. Em maio de 2016, havíamos participado juntos de outro desafio: subir a Serra do Rio do Rastro, em um evento organizado pela “Pedalando Mundo Afora”.
O cerrado brasileiro tem uma beleza singular, inerente ao clima tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22 a 23°C, sendo que as médias mensais apresentam pequena estacionalidade. As máximas absolutas mensais não variam muito ao longo dos meses do ano, podendo chegar a mais de 40°C. Neste dia, acredito que chegou e passou, visto que o calor escaldante do dia estava minando minhas energias e dos meus amigos. No entanto, o Sérgio “PQ” sabia o que teríamos no meio do caminho. Vendo o meu sofrimento, e conhecedor nato da região, ele nos preparou uma surpresa, nos conduzindo para um “oásis” cuja a finalidade era refrescar, e assim fizemos! Tratava-se de uma antiga “pedreira”, que se transformou em uma piscina de águas cristalinas, resultado da perfuração, alcançando o lençol freático.
Infelizmente, tivemos que deixar esta “piscina” e seguir pedalando até o nosso destino, a cidade de Pirenópolis, ponto final do nosso pedal. E para quem não sabe, Pirenópolis é um paraíso para os amantes do MTB.
Foi um final de semana fantástico! Percorremos aproximadamente 100 km, saindo de Girassol-GO e finalizando em Pirenópolis-GO. O trajeto escolhido pelo “Sérgio – PQ” foi via Capão da Onça, possibilitando maior interação com o caminho. Nos quilômetros finais cruzamos o Parque Estadual dos Pireneus de Goiás (em homenagem aos Pireneus que dividem a Espanha e a França).
Pedalar ao lado de ciclistas locais foi espetacular no que tange às informações recebidas durante todo o trajeto. Pude conhecer algumas frutas, plantas e árvores nativas do cerrado brasileiro:
Cagaita: fruta popular no centro-oeste brasileiro e praticamente desconhecida no restante do país. Tem elevados níveis de vitamina C e a presença de antioxidante é bem significativo. De sabor cítrico, é uma fruta com bastante líquido e muito saborosa. Deve ser consumido com moderação. O próprio nome sugere isso.
Cajuzinho-do-Cerrado: outra fruta que tive a oportunidade de degustar “in natura”. Também pode fazer sucos e geleias. Porém, seu fruto verdadeiro é a castanha, cujo óleo é rico em Cardol e Ácido Anarcádico, possuindo ações antissépticas e cicatrizantes.
Caliandra: é uma flor de extrema delicadeza. Cresce em arbustos de até 4 m, entre a vegetação seca. É a mais bela flor do Cerrado, porém, tem pouca durabilidade. Quando colhidas e levadas para serem colocadas num vaso com água, morrem em poucos minutos. A Caliandra nasce para enfeitar os campos secos e monocromáticos do cerrado.
Pequizeiro: uma árvore típica do cerrado brasileiro e, com certeza, uma das mais valiosas economicamente na região. Esta árvore produz frutos redondos, do tamanho de maçãs, com casca esverdeada. Este fruto é chamado de pequi que, em língua indígena da região, significa “casca espinhenta”. As sementes são comestíveis e, normalmente, cozidas com o arroz.